terça-feira, 16 de julho de 2013

À segunda vista (Conto)


Eu não a via fazia muito tempo... dois ou três anos eu acho, tinha parado de contar. Não esperava vê-la naquela noite.
Era uma festa, aniversário de um amigo, e eu petrifiquei no chão quando ela chegou - por uma fração de segundo achei que minha mente tinha criado a imagem. Estava linda - como sempre.
Voltei no tempo.

Nos conhecemos meio por acaso - como não raro acontece. Alguém nos apresentou, beijo no rosto, sorrisos abertos, uma gracinha aqui, uma cantadinha ali, trocamos telefones, saímos para jantar e ficamos juntos. Eu me apaixonei antes do primeiro beijo (que babaquice, alguém vai dizer.); mas foi assim.

Foi paixão em estado puro; daquelas que fazem o cara afirmar que não existe mulher mais linda, mais especial, que dá aquela certeza de que jamais em toda sua vida sentiu algo parecido e nem voltará a sentir, entusiasmo, fogo; paixão das boas que te faz sossegar, e acreditar que nunca foi tão bom fazer amor (é, você usa a expressão fazer amor!), e todos os outros clichês que encaixam tão bem em todo inicio de história - aliás, todas as histórias de amor são iguais.    

Daí o tempo passou, e alguma coisa aconteceu - como sempre acontece - e a realidade bateu à porta. Ela me deixou porque eu cometi um erro; e quando se afastou de mim levou a melhor parte da minha vida - Mais um clichê não é? Mas não é sempre assim? Quando não se tem mais é que se descobre que não havia mais nada a procurar, porque já se tinha tudo o que era preciso. 
 
Claro que eu tentei consertar! Lógico que pedi desculpas, disse que não faria de novo, implorei que ela acreditasse que havia sido um equivoco e que eu a amava. Mas não havia absolvição no meu caso: quem ama não falha como eu falhei. E ainda que eu realmente a amasse, ela não me perdoou.
 
Passei por todas as fases: neguei, depois assumi, e pedi perdão, chorei, e fiquei com raiva, depois triste, então enchi a cara e liguei bêbado, brigamos, me enchi de razão, sumi, reapareci, sai com outra, voltei a ligar, ela parou de me atender... desisti. O tempo passou e o silêncio gritou em meus ouvidos por muitas noites, mesmo que eu nunca mais tenha tido coragem de tomar uma atitude.
Agora ela está aqui e eu volto a ter 16 anos: envergonhado, sem assunto, meio bocó sem saber como chegar perto de uma mulher que povoa os meus sonhos dia após dia.   
 
As horas passam, a festa rola, bebo um pouco... e antes que seja tarde demais resolvo me arriscar. Respiro fundo, o coração bate acelerado e me aproximo, acho que vou levar um fora, mas ela abre um sorriso. Relaxo.
Ainda é ela, ainda sou eu! Conversamos como antes, rimos como sempre e a convidei para dançar. No meio da música nos beijamos; ela estava decidida e eu novamente apaixonado - pela segunda vez eu me apaixonei à primeira vista. Sabe como é... paixão é diferente de amor.
Eu a amo. A quero como amiga, como companheira, como cumplice. O tempo que passamos separados me fez ter uma certeza tão absoluta desse amor que chega a ser absurda a ironia dessa afirmação! Porém, paixão é outra coisa.
 
Estou apaixonado porque percebi que ela cortou o cabelo, porque ouvi com muita atenção tudo o que ela me disse, porque senti seu perfume e fui imediatamente transportado para um fim de tarde com gosto de sol, porque quando peguei em sua mão o calor dela percorreu meu corpo inteiro e fiquei excitado como um adolescente sonhando com uma capa de revista; estou apaixonado porque o mundo parou quando beijei sua boca e tudo o que fazia sentido para mim naquele momento, era tê-la nos braços.
 
A mulher que eu amo - e por quem sou perdidamente apaixonado - era minha outra vez e, embora não haja garantias, uma segunda chance de ser feliz é algo precioso demais para não ser reconhecido.
 
    















sábado, 6 de julho de 2013

Precisa-se de herói?


Gosto da figura do herói... em filmes e histórias em quadrinhos. Na vida real eles me incomodam um pouco e sempre me pergunto: Porque o povo precisa tanto de heróis?
 
A História está repleta de casos em que homens comuns foram elevados a categoria de "salvador da pátria" e às vezes (muitas vezes) o negócio não terminou muito bem. Governantes que em um dia são "tudo o que o povo precisava" e no dia seguinte viraram tiranos, ou corruptos, ou incompetentes, ou marionetes...
Fora das esferas de poder a figura do herói também está presente no imaginário coletivo: são os chamados "melhores de todos os tempos" - mas esse é outro assunto; quero ater-me ao momento que estamos vivendo, nesses dias em que "o gigante acordou", me preocupa quem é o novo herói que está surgindo e porque motivo. Serei mais clara: ainda não entendi porque o Ministro Joaquim Barbosa está sendo alçado ao posto de redentor da nação.

Sua excelência ganhou visibilidade nacional com o caso do mensalão. Mas, para quem andou pelo meio jurídico, ele é figura conhecida. Nomeado ministro do supremo por Lula em 2003, a fama de "não ter papas na língua" é antiga.
Contudo, gostaria de compreender - pois quem sabe mudo de ideia e descubro que sou eu que não estou enxergando o que grande parte da população brasileira já viu - porque JB é o "cara" que o país precisa? Será?

Vamos analisar:
História de vida: inspiradora, admirável. Sim, é claro! O cara nasceu no interior, preto e pobre num país desigual e preconceituoso; tem sete irmãos mais novos e os pais ainda se separaram quando ele era adolescente. Caramba! O menino mudou de estado, arranjou emprego, estudou em escola publica sempre, passou no vestibular (sem uso de cotas!), passou em concurso público, estudou fora do país, fala quatro idiomas além da língua pátria... Parece que força de vontade nunca foi problema.    

História profissional: até agora nenhum grande furo. Passou por diversos cargos, licenciou-se conforme manda o figurino quando foi estudar fora do país, nenhum escândalo ou maracutaia em que seu nome tenha sido envolvido - a propósito, o único disse-me-disse sobre o qual tive conhecimento, foi o caso da reforma do banheiro. Não lembra? JB mudou-se para um apartamento funcional de mais de 500m² em Brasília ao assumir a Presidência do STF (uau!). Pois bem, a Folha de SP divulgou manchete tendenciosa, a qual dizia que a reforma dos quatro banheiros do imóvel custariam aos cofres públicos R$ 90mil. Como no Brasil grande parte da população lê apenas as manchetes, isso virou um salseiro na internet. Todavia, o STF explicou que não eram R$ 90 mil, eram apenas R$ 78 mil de uma obra licitada que já estava em andamento com o antigo ocupante, e que os outros R$ 12mil saíram do bolso do próprio Joaquim Barbosa para instalação de uma banheira e um ou outro granito...
Ou seja, JB não pediu a mansão, nem a reforma, mas já que existe e ele tem direito a ela por força do cargo. Bem... você não iria? Certo, episódio explicado. 
 
Continuando a lista das qualidades que podem elucidar porque JB é nosso novo paladino, temos o dom da oratória. No discurso o cara é mestre! Fala "na lata" o que muita gente gostaria de dizer sobre políticos e seus privilégios, sobre advogados e suas manobras, e tantos outros assuntos que sua excelência tem abordado. E quando ele "mostrou o crachá" naquela reunião com representantes de associações de juízes? Ha, o cara não manda recado! Tratou logo de lembrar a um certo juiz que tentou argumentar alguma coisa, com quem ele estava falando.
Barbosa virou celebridade porque atira em todas as direções.
 
É esse o temperamento: arrogante, impaciente e vaidoso. Palavras fortes, mas não há outras, essa é a verdade.
Não faz muito tempo que o Sr. Ministro mandou um repórter "chafurdar na lama", em seguida disse que não tinha interesse sobre o que ele estava tratando e arrematou com um "palhaço". Segundo o áudio divulgado, o repórter não chegou sequer a fazer a pergunta antes de receber tão "educado" tratamento. O STF divulgou nota de desculpas em seguida, que não foi assinada por sua Excelência, diga-se de passagem. Mais recentemente pôde-se acompanhar uma outra entrevista - dessa vez ele permitiu que a repórter falasse - em que foi perguntado sobre o que achava do fato de estar sendo apontado como o próximo Presidente da República e, com um raro sorrisinho de canto de boca, JB disse que se sentia lisonjeado, embora não pretenda candidatar-se.
Nessa o ego foi bem alimentado. 
 
Então o que concluo? Estamos diante de um homem inteligente, articulado, temperamental, mas que aparentemente não "vendeu a alma" para chegar ao posto máximo da justiça desse país. Porém, daí a ser um bom governante existe uma grande distância a percorrer. 
 
Penso em qual seria o plano de governo? Antes disso, JB "saberia" governar? O Judiciário não é um poder representativo. E falar é sempre mais fácil que fazer... ele faz bons discursos mas... e na prática?
Governar um país continental, com todas as suas mazelas, com o sistema que impera em nossa política, quais seriam seus aliados?  Por onde ele começaria a "arrumar a casa"? Aliás, qual seria seu partido?! A qual daqueles que ele chamou de "partidos de mentirinha" iria filiar-se? Ou fundaria um partido que seja de "verdadinha"?

Basta inteirar-se um pouquinho sobre a política brasileira e entendemos que, embora tudo vá para a "conta do presidente" sem o Congresso nada é feito. JB faria alianças? JB se dirigiria aos parlamentares como "palhaços que chafurdam na lama"? Ah... a coisa ficaria diferente, bem diferente.

Não seria o meu candidato, uma vez que ele não me propôs nada enquanto cidadã. Recuso-me a depositar minha confiança em um homem que não apresentou planos concretos para melhorar a vida do meu país - ele nem quer tal honra e responsabilidade, foi o que disse - tentar convencê-lo considero o cúmulo. É demais para mim.

Na esteira dos acontecimentos, ainda penso que a "arma" da população é o voto. O mais consciente, "pé no chão" e critico quanto for possível. Política se discute sim! Daqui a pouco mais de um ano iremos às urnas e minha maior esperança é que o povo não reeleja nenhum dos políticos atuais. Nenhum, sem exceção. Nem mesmo aqueles que - quase por milagre - se salvam de integrar as corjas que aí estão. Radical! Renovação completa em todas as esferas. E renovação de partidos também! Que "se mexam" e nos convençam não com historinhas da carochinha, mas com planos sérios para os problemas do país, para nossa qualidade de vida, para nosso crescimento. (É bom lembrar que não reeleger o cara, mas votar no afilhado dele dá no mesmo viu? E nem estou falando da Dilma, embora o povo tenha votado nela enxergando o Lula. Mas os currais eleitorais que ainda existem no Brasil em pleno século 21, é qualquer coisa de inaceitável - para dizer o mínimo).

Por fim, que aprendamos a cobrar o que nos foi prometido. Não nos fins dos mandatos (aí já é tarde e Inês é morta), mas cobremos periodicamente.

E, sobretudo espero, que deixemos de lado a ideia de que tudo se resolve do dia para a noite, tal qual um "passe de magica". Heróis, só em filmes. Na vida real eles precisam mais do que capa e voz empostada; há muito trabalho a fazer, trabalho para muitos, inclusive para cada um de nós.  




 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 



 

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Edição Ilimitada


Edição ilimitada.

Desde que o mundo é mundo as notícias são manipuladas.
Sim, é verdade, não há escapatória.
E assim o é pelos mais diferentes motivos, às vezes até sem "maldade" - em outras com muita maldade! - mas o ditado é certo: "quem conta um conto, aumenta um ponto" - ou reduz, coloca uma virgula, aumenta um parágrafo...

Na escrita cuneiforme dos sumérios, passando pelos hieróglifos em pergaminho egípcio, até os copistas, escribas, gregos contadores de história, aos jornalistas e blogueiros... sempre que o homem narrar uma história, inevitavelmente ele irá impor suas impressões sobre ela.
Exemplo: Se você e eu presenciarmos um determinado acontecimento e, em seguida, nos dispusermos a relatar o que vimos, teremos percepções distintas.  Ainda que concordemos sobre o assunto, que estejamos dispostos a propagar a mesma coisa, um de nós terá visto uma nuance, um ponto, uma cor... diferente do outro. Imagina ainda se não concordarmos sobre o assunto? Xiiii...

Uma das primeiras lições que recebi na faculdade de História, é que jamais haverá uma verdade absoluta.
O que existem são versões da verdade e o aprofundamento do estudo procura aproximar-se da realidade dos fatos - porém, nunca um historiador será totalmente imparcial; por mais que se esforce, sua visão pessoal estará presente nas análises que se propuser a fazer.

Porque estou falando disso?
Porque estamos vivendo dias em que a frase "você está sendo manipulado pela mídia" virou bordão. 

Funciona mais ou menos assim: Se você gosta e concorda com determinado tema ou assunto (pode ser de tudo, desde uma musica, um cantor, uma religião, um partido politico, um determinado politico, um programa de televisão, um filme, um bicho, uma pedra na rua - vale tudo mesmo!), se você concorda com o que está sendo dito sobre a "coisa" e eu não concordo, você dirá: "Você está sendo manipulado pela mídia para não gostar disso e tal".
Se é ao contrario, se você não concorda, repudia, acha o fim do mundo! Então o discurso muda (embora seja o mesmo!): "Você está sendo manipulado pela mídia e não enxerga que isso é mal e blablabla..."

Ou seja: não sabemos pensar sozinhos!

É sério?? Que medo.

Esquisito.

Não, não vivo num mundo cor de rosa, sei muito bem que a manipulação das massas existe (repito: isso não é novidade, vem desde que o mundo é mundo, e nem vou citar o exemplo dos exemplos para não criar polêmica) mas acontece que vivemos uma era em que a informação bate a nossa porta - o que fazemos com ela é ainda uma grande questão - mas... pelo sim, pelo não, é fato que a nossa visão das coisas ainda é particular.
(Ou pelo menos, deveríamos ter visão das coisas).

Não quero me aprofundar no tema sobre a preguiça do povo em buscar conhecimento.

Quero apenas deixar a minha impressão pessoal (olha ela aí!): O que tenho visto atualmente, em grande parte das vezes, é que quando alguém diz "você está sendo manipulado pela mídia", essa pessoa quer tão somente convencê-lo a pensar como ela.